Informações gerais: Secreção uretral, disúria ou exposição a uma doença sexualmente transmissível (DST) são apresentações freqüentes de uretrite na população masculina que vem ao PS. Pesquisa recente enfocou a antibioticoterapia eficaz para o custo e a posologia para otimizar a fidelidade ao tratamento e prevenir recorrência nesta doença com transmissão predominantemente sexual.
Fisiopatologia: A uretrite é uma afecção inflamatória, que pode ser infecciosa ou pós-traumática. As causas infecciosas da uretrite são, em geral, sexualmente transmissíveis e categorizadas como gonocócicas (GC). As infecções por Neisseria gonorrhoeae ou uretrite não-gonocócica (UNG) vêm após infecção por Chlamydia trachomatis, Ureaplasma urealyticum, Mycoplasma hominis ou Trichomonas vaginalis.
A uretrite pode associar-se a outras síndromes infecciosas como epididimite, orquite, prostatite, proctite, síndrome de Reiter, irite, pneumonia, otite média ou infecção do trato urinário.
Mortalidade/morbidade: A uretrite geralmente se resolve sem complicação, mesmo se não tratada, ainda que possa resultar em estenose uretral ou formação de abscesso em raros casos.
Idade: A uretrite é predominantemente doença de homens adultos.
História:
• Muitos pacientes, aproximadamente 25%, são assintomáticos e apresentam-se após triagem do parceiro:
– Secreção ureteral.
– Disúria.
• Freqüência ou urgência urinária tipicamente está ausente. Se presente, deve sugerir prostatite ou cistite.
• Sintomas sistêmicos, como febre, calafrios, sudorese e náuseas, tipicamente estão ausentes, mas, se presentes, poderiam sugerir gonococcemia disseminada, pielonefrite, orquite ou outra infecção.
• Pergunte sobre o número e sexo dos parceiros sexuais e também sobre o uso de condom.
• Pergunte sobre história de DSTs, inclusive uretrite prévia.
• Pergunte sobre recente cateterização uretral ou instrumentação, seja o procedimento médico ou auto-induzido (como corpo estranho).
• Pergunte sobre sintomas gonocócicos, por clamídia ou por micoplasma:
– Artrite.
– Conjuntivite.
– Proctite.
– Prostatite.
– Epididimite/orquite.
– Pneumonia.
– Otite média.
– Lombalgia (síndrome de Reiter).
– Irite.
Exame físico: A maioria dos pacientes com uretrite não tem aspecto de doente e não manifesta sinais de sepse, como febre, taquicardia, taquipnéia ou hipotensão. O foco primário do exame é a genitália.
• Examine o meato uretral em busca de lesão cutânea, estenose ou secreção uretral óbvia.
• Palpe ao longo da uretra em busca de áreas de flutuação, dor à palpação ou calor, sugestivas de abscesso ou endurecimento sugestivo de corpo estranho.
• Ordenhe a uretra para expressão da secreção.
• Examine os testículos e o epidídimo em busca de edema, dor à palpação ou calor, sugestivo de orquite ou epididimite.
• Examine o pênis, o escroto e a pele da região inguinal em busca de rashes sugestivos de outras DSTs, como condiloma acuminado, herpes simples ou sífilis.
• Em pacientes com sintomas sugestivos de doença gonocócica disseminada, por clamídia ou por micoplasma, o restante do exame físico deve avaliar articulações, pele, conjuntiva, membranas timpânicas e pulmões.
Causas: Sexo promíscuo ou sem proteção é fator de risco significativo para uretrite das DSTs.
• Uretrite gonocócica (80% dos casos):
– Neisseria gonorrhoeae, diplococo intracelular Gram-negativo.
– Os pacientes têm período de incubação mais curto e início abrupto de disúria e secreção purulenta.
– Ureaplasma urealyticum (40% a 60%).
– Chlamydia trachomatis (30% a 40%).
– Mycoplasma hominis (5% a 10%).
– Trichomonas vaginalis (menos de 5%).
– Os casos se apresentam com incubação mais longa e início subagudo de disúria ou, menos comumente, secreção mucopurulenta.
– Casos raros podem estar relacionados ao linfogranuloma venéreo, herpes genital, sífilis, micobactérias ou infecção do trato urinário com estenose uretral.
– Ocorre uretrite após cateterização em 2% a 20% dos pacientes que praticam cateterização intermitente e é 10 vezes mais provável com cateteres de látex, e não de silicone.
Diagnóstico diferencial:
Epididimite.
Orquite.
Prostatite.
Síndrome de Reiter.
Exames laboratoriais:
• Pense em cultura uretral para Neisseria gonorrhoeae e Chlamydia trachomatis.
– Esta pode ser útil para triagem de N. gonorrhoeae produtora de penicilinase ou resistência cromossomicamente mediada a múltiplos antibióticos; entretanto, os resultados não influenciarão a antibioticoterapia inicial e podem não ter uma boa relação custo-benefício.
– A cultura endouretral (obtida por inserção delicada de um swab maleável com ponta de algodão com 1 cm a 2 cm na uretra), e não cultura da secreção, é necessária para C. trachomatis.
• As provas de reação da polimerase em cadeia estão à disposição somente para ambos os organismos. No entanto, como com a cultura, os resultados não influenciarão a antibioticoterapia inicial e podem não ter boa relação custo-benefício.
• Bacterioscopia Gram da secreção.
– Tradicionalmente o tratamento era baseado nos resultados da bacterioscopia com Gram; aquelas com diplococos intracelulares Gram-negativos recebiam tratamento para GC e aquelas sem, recebiam tratamento para UNG. Como as recomendações atuais sugerem que os pacientes recebam tratamento concomitante para ambas, pode não ser necessária a bacterioscopia com Gram.
• Urina-I:
– Não é exame útil em uretrite, exceto para excluir cistite ou pielonefrite. Pode ser necessário em casos de disúria sem secreção.
– Pacientes com GC podem ter leucócitos na primeira parte do jato urinário e menos ou nenhum leucócito em uma amostra do jato médio. Mais de 30% dos pacientes com UNG não têm leucócitos na urina.
Deve ser pedida sorologia para sífilis.
Cultura da secreção.
Procedimentos: Bacterioscopia da secreção uretral já não é considerada útil, já que os resultados habitualmente não alterarão o tratamento.